O início, como seria de esperar, foi liiiiiiindo! No final do dia, depois do trabalho, dirigimo-nos ao ponto de partida. Encetamos o momento solene com um beijo terno, que fotografámos, símbolo do compromisso que assumimos, a dois, e que estava agora prestes a ser iniciado - à semelhança do que tínhamos feito 3 anos antes (13.09.2008), dentro da igreja que servia de pano de fundo. Não vestimos os coletes porque achamos que percorrer a pé o passeio da Avenida da República, em Gaia, em plena hora de ponta, não obrigaria a medidas de segurança assim tão exigentes e que nos colocassem logo ao peito o rótulo de peregrinos. Com isto não queremos que se interprete que tínhamos algum tipo de vergonha em assumir que o éramos, muito pelo contrário, mas acho que éramos nós próprios que ainda não nos tínhamos conseguido configurar como tal.
Mãos à obra, ou melhor, pés a caminho! Correu muito bem. Estávamos a ser guiados pelas famosas setas azuis que indicam o caminho a pé para Fátima. Estas setas, normalmente pintadas em paredes e postes por escuteiros e grandes grupos de peregrinos, eram normalmente acompanhadas por setas amarelas a indicar o sentido contrário – o caminho a pé de Fátima a Santiago de Compostela. E foi estranha a sensação que se foi instalando em nós à medida que encontrávamos mais uma seta no nosso caminho. Em momentos como estes, em que nos estamos a por à prova e que, de alguma forma, sentimos algum tipo de privação, é impressionante a capacidade que temos de nos agarrar a coisas tão simples e que estas nos transmitem tanto apoio, confiança, acompanhamento e esperança: apercebemo-nos que tantas outras pessoas passaram e passarão por estes pontos pela mesma causa que nós; vemos o altruísmo de quem se preocupa com os que atrás de si virão; percebermos que o projecto desta caminhada está, finalmente, a ser concretizado. E este foi o primeiro momento verdadeiramente emotivo para mim.
Apesar do percurso neste primeiro dia ser de apenas 10Km, ou seja, 2h, reconhecemos logo que isto de caminhar à noite não era para nós, sobretudo por sermos apenas 2! O cansaço, a insegurança e os horários não se compadeciam com a nossa intenção de viver este momento intensamente e percebemos que tínhamos tomado a decisão correcta ao decidirmos que, a partir do dia seguinte, iríamos caminhar de dia. De qualquer modo, algumas dificuldades iriam manter-se constantes mesmo sob a luz do sol: caminhar nas bermas, levar uns sustos de automobilistas insensíveis, tropeçar no lixo, etc. Como planeado, chegamos ao nosso destino, dentro do tempo previsto e voltamos para o nosso palácio, onde cuidadosamente iniciamos os rituais do spa do nosso "veículo" – os pés e as pernas. Banhinho quente, creme para pernas cansadas, uma boa refeição, pés de molho em água e sais, creme hidratante sob umas meias grossas e um sono recuperador, porque o dia seguinte é que seria mesmo a sério!!! Ah! Evidentemente que não me podia esquecer de referir que, ainda antes de adormecer, pedi com muita força à minha Senhora que me desse força e coragem para o que me esperava no dia seguinte, que constituía o total e absoluto desconhecido…
"Dia 0: Primeira (mini)etapa concluída. Entre estradas sem luz e condutores armados em engraçadinhos, lá fizemos os nossos primeiros 10km (sem ser a feijões) e concluímos que andar de noite não tem piada nenhuma. Amanhã vai ser a valer e a doer também. Mas com a força telepática que estamos a receber dos nossos amigos vai custar bem menos! Um beijinho muito grande a todos e obrigado pelo apoio!!! Família V. G."
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