Num estante se passaram 4 dias e já estávamos a chegar ao fim. Reparámos que, à medida que os dias iam avançando e que nos íamos deslocando progressivamente para o interior e para Sul, a temperatura foi subindo. Desta feita, avizinhava-se um dia extremamente quente - e quando digo extremamente, sei bem o que quero dizer! Neste dia, sentimos a necessidade de parar mais vezes, não só pelo calor, mas também pelo cansaço. Mas nunca parávamos muito tempo porque este era o dia da derradeira chegada!!!
Aproveitamos as horas frescas para compensar as passadas mais vagarosas pelo Sol a pique e lá fomos os dois. Mas, para mal dos meus pecados, tínhamos deixado a estrada nacional na véspera e, a partir desse momento, deixara de haver marcos com a indicação dos quilómetros, essenciais para que eu conseguisse calcular as distâncias percorridas e as a percorrer. Que nó! O meu marido estava ansioso que isto acontecesse porque estava sempre a pegar comigo, dado que eu passava a vida a fazer contas, e a dizer que tínhamos andado pouco, e que tínhamos que andar mais, e que... Enfim! Agora era só caminhar, caminhar, caminhar até chegar! Os registos fotográficos do percurso deste dia são inexistentes, uma vez que só uma vontade nos guiava: a de chegar ao Santuário e as imagens foram tiradas só ao final do dia depois da "Prova Superada".
Uma situação que verificamos foi que, apesar de estarmos quase, quase no dia 13, nestes dias vimos muito pouca gente a "peregrinar": já não havia emigrantes em férias, estava calor e o mês seguinte seria Outubro (mês que celebra a última Aparição - Milagre do Sol). Aliás, os dias em que sentimos mais "tráfego" foram Sábado e Domingo, por haver quem o faça só aos fins-de-semana. Por este motivo, a nossa caminhada permaneceu a dois durante todos os dias - o que não foi necessariamente mau para quem procurava a introspecção, o afastamento e o silêncio, por um lado, e para quem tinha tanta gente boa a dar apoio, por outro.
Este foi um dia completamente atípico de todos os outros. Para começar, subimos, subimos e subimos. Mas atenção, para mim isto não foi um ponto negativo, muito pelo contrário! Tive a oportunidade de aliviar um pouco os pontos mais massacrados dos meus pés. Como tinha já referido no dia em que subimos até Condeixa, as subidas ajudam a aliviar as zonas mais massacradas dos pés. Valeu-nos a boa preparação do nosso sistema cardio-respiratório, senão tinhamos chegado lá acima a arfar!
Paramos na Caranguejeira para almoçar, mas antes disso já tínhamos entornado por nós abaixo uma série de garrafas de água e este ritual repetiu-se pela tarde fora. Tivemos sorte porque neste dia encontramos imensos fontanários que nos foram baixando a temperatura e quem nos visse havia de pensar que tínhamos um problema de coordenação motora, dado que não conseguíamos por a garrafa na boca e só na cabeça ou nos ombros. É que neste dia não havia chapéu, protector solar ou camisola que nos conseguisse proteger do Sol.
Esta nossa paragem foi feita, uma vez mais, num local muito discreto: um pequeno jardim público que servia de separador central de uma estrada. Mas ainda assim, guardei os meus pudores para uma ocasião em que não estivesse tão exausta e deitei-me num banco desse jardim a descansar pela última vez antes de chegar. Conhecemos um senhor que, apesar de ter que sair, nos deixou a chave de sua casa para podermos usar a sua casa de banho,só porque éramos peregrinos e do norte, como ele - note-se que não o conhecíamos de lado nenhum!!!
"SÓ FALTAM 12 KM!!!! :D :D :D" - à hora do almoço.
Começávamos agora a sentir as primeiras emoções associadas ao fim da nossa jornada. Nos momentos em que senti, durante estes dias, o cansaço a querer apoderar-se na minha razão, encontrava sempre forças para combater isso com uma imagem: a de estar a chegar e ver o Santuário, a ser invadida por uma série de emoções e a sentir-me concretizada. E agora, mais do que nunca, começava a perceber o que isso era. Por tudo isto, e apesar de estar um calor capaz de derreter a moleirinha, pusemos pés a caminho.
Não havia sombra, não passavam carros, as dores intensificam-se, mas levávamos tudo à nossa frente. Mais devagar do que pretendíamos, lá começamos a subir o monte de Santa Catarina da Serra, que é como quem diz, 4 Km de subida que se traduzem no último teste à nossa capacidade de resistência. Depois de subirmos o monte ao quando iniciávamos a descida, começaram a doer os pés, mas assim que avistamos, ao longe, a coroa do Santuário de Fátima, o sofrimento passou.
Ainda andámos um bom bocado até chegarmos. A nossa pele crepitava com tanto calor. Mas o sabor da realização já ninguém no-lo tirava. Os telefonemas começaram a chover. As mensagem a perguntar se já tínhamos chegado, também. E, curiosamente, estava ansiosa. A parte mais difícil tinha, sem qualquer sobra de dúvida passado, e restava agora um nervosismo miudinho, uma moedeira na barriga, como no primeiro dia de escola. Já muito perto, metemo-nos por um atalho e, quase sem darmos por isso, estávamos às portas do Santuário.
A partir daqui pouco posso dizer. Em primeiro lugar, e guardadinhas que estavam, cairam-me as primeiras lágrimas pela cara abaixo. As dores, desapareceram. Agarrei-me ao meu marido e durante uns momentos a sensação que tenho, agora, é que mergulhei no mar. Não me recordo bem das palavras que dissemos, nem daquilo que ouvimos. Perdemos a noção do espaço e do tempo. Foi como se tivéssemos ficado inundamos por um turbilhão de emoções. E ali ficamos os dois, 3 anos após termos jurado união eterna, a viver um dos momentos mais marcantes da nossa vida.
"Após 190Km e 5 dias de caminhada... FINAL FELIZ!!! OBRIGADO A TODOS PELO VOSSO APOIO..."
Ainda sem estarmos completamente recuperados, encontramos os meus sogros, que não entraram ao mesmo tempo que nós no Santuário por perceberem que este era um momento que queríamos reservado. Mas quando os vimos, corremos para os abraçar e para lhes agradecer todo o apoio que nos deram ao longo destes 5 dias. A minha sogra, feita de plasticina como eu, imediatamente se rendeu à choradeira comigo. O meu sogro, apesar de feito de ferro, não se aguentou e também cedeu ao momento. É que apesar de não terem feito 190 km a pé, estiveram sempre ao nosso lado e viveram quase da mesma forma tudo o que vivemos nestes dias.
Respeitando a promessa que tinha feito à minha avó, que tinha ficado toda preocupada comigo quando soube que iria a Fátima, liguei-lhe para a deixar mais sossegada. Imediatamente a seguir liguei aos meus pais, a segurar as lágrimas senão não iria parar de chorar nunca e depois aos nossos queridos amigos que nos visitaram, partilhando com eles também o sabor da vitória! Uns telefonemas mais tarde e depois de passarmos alguns minutos na capela, fomos jantar, ainda a tentar absorver tudo o que estava a acontecer.
"DIA 5: CHEGÁMOS!!! Poucas palavras temos hoje para partilhar convosco. Apenas podemos dizer que os 40 graus, quer de temperatura, quer de inclinação das estradas que percorremos, não conseguiram superar a nossa determinação e, sobretudo, a nossa FÉ em Deus e em nós próprios. O momento da entrada no Santuário foi absolutamente indescritível, pelo que ainda nos faltam as palavras. Ainda assim, queremos agradecer a todos também a fé que em nós depositaram e o apoio continuo que nos deram, que permitiu que alcançássemos este nosso objectivo."
Como cereja no topo do bolo, fomos surpreendidos pela presença de duas pessoas muito queridas para nós, a A.L. e a A.L., que lá vão todos os meses e que sabiam que chegávamos nesse dia. Foi maravilhoso encontrá-las e ver o reconhecimento pelo nosso feito estampado nos seus olhos.
E depois o terço e a procissão das velas... Ai, ai, ai... Tudo aquilo que bebi e não transpirei foi vertido nesse momento. Desde pequena que me comovo muito com o "Adeus de Fátima" e neste dia, juntar a isso a emoção e o cansaço... E mais não digo senão ainda causo um curto-circuito no blogue!
Porque tínhamos metido 4 dias de férias, restava-nos um para descansar e repor todas as baterias, pelo que depois da celebração regressamos a nossa casa onde, depois de um bom banho, cedemos ao sono e "dormimos até doer"...
Aproveitamos as horas frescas para compensar as passadas mais vagarosas pelo Sol a pique e lá fomos os dois. Mas, para mal dos meus pecados, tínhamos deixado a estrada nacional na véspera e, a partir desse momento, deixara de haver marcos com a indicação dos quilómetros, essenciais para que eu conseguisse calcular as distâncias percorridas e as a percorrer. Que nó! O meu marido estava ansioso que isto acontecesse porque estava sempre a pegar comigo, dado que eu passava a vida a fazer contas, e a dizer que tínhamos andado pouco, e que tínhamos que andar mais, e que... Enfim! Agora era só caminhar, caminhar, caminhar até chegar! Os registos fotográficos do percurso deste dia são inexistentes, uma vez que só uma vontade nos guiava: a de chegar ao Santuário e as imagens foram tiradas só ao final do dia depois da "Prova Superada".
Uma situação que verificamos foi que, apesar de estarmos quase, quase no dia 13, nestes dias vimos muito pouca gente a "peregrinar": já não havia emigrantes em férias, estava calor e o mês seguinte seria Outubro (mês que celebra a última Aparição - Milagre do Sol). Aliás, os dias em que sentimos mais "tráfego" foram Sábado e Domingo, por haver quem o faça só aos fins-de-semana. Por este motivo, a nossa caminhada permaneceu a dois durante todos os dias - o que não foi necessariamente mau para quem procurava a introspecção, o afastamento e o silêncio, por um lado, e para quem tinha tanta gente boa a dar apoio, por outro.
Este foi um dia completamente atípico de todos os outros. Para começar, subimos, subimos e subimos. Mas atenção, para mim isto não foi um ponto negativo, muito pelo contrário! Tive a oportunidade de aliviar um pouco os pontos mais massacrados dos meus pés. Como tinha já referido no dia em que subimos até Condeixa, as subidas ajudam a aliviar as zonas mais massacradas dos pés. Valeu-nos a boa preparação do nosso sistema cardio-respiratório, senão tinhamos chegado lá acima a arfar!
Paramos na Caranguejeira para almoçar, mas antes disso já tínhamos entornado por nós abaixo uma série de garrafas de água e este ritual repetiu-se pela tarde fora. Tivemos sorte porque neste dia encontramos imensos fontanários que nos foram baixando a temperatura e quem nos visse havia de pensar que tínhamos um problema de coordenação motora, dado que não conseguíamos por a garrafa na boca e só na cabeça ou nos ombros. É que neste dia não havia chapéu, protector solar ou camisola que nos conseguisse proteger do Sol.
Esta nossa paragem foi feita, uma vez mais, num local muito discreto: um pequeno jardim público que servia de separador central de uma estrada. Mas ainda assim, guardei os meus pudores para uma ocasião em que não estivesse tão exausta e deitei-me num banco desse jardim a descansar pela última vez antes de chegar. Conhecemos um senhor que, apesar de ter que sair, nos deixou a chave de sua casa para podermos usar a sua casa de banho,só porque éramos peregrinos e do norte, como ele - note-se que não o conhecíamos de lado nenhum!!!
"SÓ FALTAM 12 KM!!!! :D :D :D" - à hora do almoço.
Começávamos agora a sentir as primeiras emoções associadas ao fim da nossa jornada. Nos momentos em que senti, durante estes dias, o cansaço a querer apoderar-se na minha razão, encontrava sempre forças para combater isso com uma imagem: a de estar a chegar e ver o Santuário, a ser invadida por uma série de emoções e a sentir-me concretizada. E agora, mais do que nunca, começava a perceber o que isso era. Por tudo isto, e apesar de estar um calor capaz de derreter a moleirinha, pusemos pés a caminho.
Não havia sombra, não passavam carros, as dores intensificam-se, mas levávamos tudo à nossa frente. Mais devagar do que pretendíamos, lá começamos a subir o monte de Santa Catarina da Serra, que é como quem diz, 4 Km de subida que se traduzem no último teste à nossa capacidade de resistência. Depois de subirmos o monte ao quando iniciávamos a descida, começaram a doer os pés, mas assim que avistamos, ao longe, a coroa do Santuário de Fátima, o sofrimento passou.
Ainda andámos um bom bocado até chegarmos. A nossa pele crepitava com tanto calor. Mas o sabor da realização já ninguém no-lo tirava. Os telefonemas começaram a chover. As mensagem a perguntar se já tínhamos chegado, também. E, curiosamente, estava ansiosa. A parte mais difícil tinha, sem qualquer sobra de dúvida passado, e restava agora um nervosismo miudinho, uma moedeira na barriga, como no primeiro dia de escola. Já muito perto, metemo-nos por um atalho e, quase sem darmos por isso, estávamos às portas do Santuário.
A partir daqui pouco posso dizer. Em primeiro lugar, e guardadinhas que estavam, cairam-me as primeiras lágrimas pela cara abaixo. As dores, desapareceram. Agarrei-me ao meu marido e durante uns momentos a sensação que tenho, agora, é que mergulhei no mar. Não me recordo bem das palavras que dissemos, nem daquilo que ouvimos. Perdemos a noção do espaço e do tempo. Foi como se tivéssemos ficado inundamos por um turbilhão de emoções. E ali ficamos os dois, 3 anos após termos jurado união eterna, a viver um dos momentos mais marcantes da nossa vida.
"Após 190Km e 5 dias de caminhada... FINAL FELIZ!!! OBRIGADO A TODOS PELO VOSSO APOIO..."
Ainda sem estarmos completamente recuperados, encontramos os meus sogros, que não entraram ao mesmo tempo que nós no Santuário por perceberem que este era um momento que queríamos reservado. Mas quando os vimos, corremos para os abraçar e para lhes agradecer todo o apoio que nos deram ao longo destes 5 dias. A minha sogra, feita de plasticina como eu, imediatamente se rendeu à choradeira comigo. O meu sogro, apesar de feito de ferro, não se aguentou e também cedeu ao momento. É que apesar de não terem feito 190 km a pé, estiveram sempre ao nosso lado e viveram quase da mesma forma tudo o que vivemos nestes dias.
Respeitando a promessa que tinha feito à minha avó, que tinha ficado toda preocupada comigo quando soube que iria a Fátima, liguei-lhe para a deixar mais sossegada. Imediatamente a seguir liguei aos meus pais, a segurar as lágrimas senão não iria parar de chorar nunca e depois aos nossos queridos amigos que nos visitaram, partilhando com eles também o sabor da vitória! Uns telefonemas mais tarde e depois de passarmos alguns minutos na capela, fomos jantar, ainda a tentar absorver tudo o que estava a acontecer.
"DIA 5: CHEGÁMOS!!! Poucas palavras temos hoje para partilhar convosco. Apenas podemos dizer que os 40 graus, quer de temperatura, quer de inclinação das estradas que percorremos, não conseguiram superar a nossa determinação e, sobretudo, a nossa FÉ em Deus e em nós próprios. O momento da entrada no Santuário foi absolutamente indescritível, pelo que ainda nos faltam as palavras. Ainda assim, queremos agradecer a todos também a fé que em nós depositaram e o apoio continuo que nos deram, que permitiu que alcançássemos este nosso objectivo."
Como cereja no topo do bolo, fomos surpreendidos pela presença de duas pessoas muito queridas para nós, a A.L. e a A.L., que lá vão todos os meses e que sabiam que chegávamos nesse dia. Foi maravilhoso encontrá-las e ver o reconhecimento pelo nosso feito estampado nos seus olhos.
E depois o terço e a procissão das velas... Ai, ai, ai... Tudo aquilo que bebi e não transpirei foi vertido nesse momento. Desde pequena que me comovo muito com o "Adeus de Fátima" e neste dia, juntar a isso a emoção e o cansaço... E mais não digo senão ainda causo um curto-circuito no blogue!
Porque tínhamos metido 4 dias de férias, restava-nos um para descansar e repor todas as baterias, pelo que depois da celebração regressamos a nossa casa onde, depois de um bom banho, cedemos ao sono e "dormimos até doer"...
